quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Inu Kurai - parte 1

Essa tem continuação, mas fica pra semana que vem hohohoho...


Seis meses havia se passado após a Guerra Escura. Ansur continuava alternando suas noites entre a falta de sono e terríveis pesadelos nos quais Elion retornava dos mortos acusando-o por sua morte, toda esta angústia dilacerava os ânimos do cavaleiro.
Certo dia, cansado de esperar pelo fim dos pesadelos o cavaleiro decidiu procurar as sacerdotisas da Deusa Lenan[1] que viviam em um oráculo secreto localizado entre a Zona Morta e as ruínas da Cidade Antiga. Ao saber da jornada, Arien correu até o pátio do castelo onde Ansur se preparava para partir.
- Não aprovarei sua viagem inoportuna e absurda! Paralta necessita de você. Se os pesadelos são seus problemas basta que você fale com Hanú e ele lhe dará uma poção para dormir e sonhar com coisas boas.
- Minha busca não inclui apenas o término de algumas lembranças ruins. Procuro um pouco de solidão, preciso encontrar minha verdadeira razão de ser. Matei um homem honrado e causei a desgraça de sua imagem. – disse Ansur sem olhar nos olhos da rainha
- Aquele homem que você matou jamais foi Elion, era algo ruim e sem alma que Gorth manipulava a seu favor. – exaltou-se Arien.
- Isso não muda o fato de que ele nunca mais retornará para casa, nem para você.
As palavras do cavaleiro atingiram Arien como uma rajada de flechas, por alguns segundos a rainha sentiu o gosto amargo da ira, mas - em um esforço incomum para esconder seus sentimentos - recobrou a serenidade habitual, voltou-se para o rapaz e disse:
- Se procura paz de espírito não serei eu a impedir-lhe de buscá-la, porém peço que não parta sem que antes eu lhe dê alguns itens para a viagem.
A feiticeira encaminhou Ansur até um aposento trancado com um cadeado grande e adornado com delicadas flores prateadas, dentro do quarto havia inúmeros artefatos das mais variadas formas: um jarro-elefante modelado em barro e adornado com ouro cuja alça era a tomba, varinhas mágicas de todos os tamanhos, potes com poções e pós mágicos, estátuas (a que mais chamou a atenção de Ansur foi a que representava uma criatura meio homem meio falcão), esqueletos de criaturas lendárias, garrafas coloridas contendo líquidos com propriedades mágicas, livros antiqüíssimos que datavam de muitos séculos atrás, etc.
Arien abriu um dos incontáveis baús espalhados pelo local, dentro dele ela retirou um punhal com cerca de vinte centímetros, no cabo havia desenhada uma fênix e, na lâmina, a seguinte inscrição “às cinzas não retornarás, sua eternidade me pertence”. A bruxa abriu outro baú e dele retirou uma pequena caixinha que cabia na palma da mão do cavaleiro, ela era coberta por um tecido vermelho com a estampa de pequenas nuvens douradas.
- Esta caixa foi feita por um mago que estudou as fraquezas dos demônios e gênios, ela pode aprisionar até três criaturas destas espécies de uma vez. Para tanto é só recitar o cântico escrito no lado oposto à fechadura da caixa. – disse Arien
Ansur guardou os itens em sua bolsa, abraçou Arien, beijou-lhe a face como um garotinho que acabara de ganhar um doce, exibiu seu característico sorriso no canto da boca e disse enquanto saía do aposento:
- Guarde um pedaço de bolo da festa do Bardo Geis[2], e diga a sua irmã que comeremos juntos depois que eu voltar!
A rainha sorriu e balançou a cabeça imaginando os disparates que Kayna diria ao ouvir essa frase.


[1] Deusa Lenan: conhecida em Azarak como “aquela que vê o mundo real e por debaixo do véu do destino”, suas sacerdotisas são famosas por curar as dores do espírito humano.
[2] Bardo Géis: homem santo que cantava o amor, suas músicas eram capazes de fazer os casais se apaixonarem O casal que, na festa do Bardo Géis, comer o mesmo pedaço de bolo ficará junto para sempre.

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