segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Inu Kurai - parte II - O punhal da fênix

Foram três dias de viagem até que, finalmente, Ansur e seu cavalo Igor se depararam com o imenso templo de Lenan logo acima do monte místico, encravado no meio das pedras negras e pontiagudas.
Por que chamam este templo de secreto? Para mim ele parece bem visível” pensou o cavaleiro enquanto descia do cavalo e observava a íngreme trilha até os portões do templo. Quando começou a subir, Ansur descobriu a resposta para sua pergunta irônica, as quatro estátuas da Deusa Lenan que cercavam o templo estavam completamente destruídas. “Elas deveriam deixar a entrada do oráculo invisível” concluiu o rapaz. Ao entrar naquele lugar misterioso ele observou que os ornamentos e muitos objetos estavam ausentes, deduziu então que saqueadores poderiam ter passado por ali. Seu coração se aliviou ao perceber que não havia corpos nem marcas de algum combate. “Pelo menos o oráculo deve ter previsto a invasão e fugiu com seus seguidores”. Após pensar nisto, virou-se para seguir o caminho de volta, foi quando percebeu um homem caído no chão. Ansur aproximou-se com cautela, o silêncio daquele lugar fazia ressoar os estalos de suas vestimentas. O homem caído no chão usava uma armadura diferente das que ele estava acostumado a ver, percebeu também que o homem tinha os olhos puxados e a pele incrivelmente pálida como a neve, “Deve estar morto a algum tempo” pensou Ansur, enfiado no peito do cadáver estava um punhal cujo cabo exibia uma fênix idêntica àquela que a rainha lhe dera. O cavaleiro da armadura prateada sentiu um impulso irresistível de arrancar o punhal do morto, e assim o fez. Quando a lâmina deixou a ferida do falecido este deu um sobressalto de dor, aspirando o ar rapidamente como se tivesse voltado à vida.
-         Pelos deuses do Norte! – exclamou Ansur – Você está vivo homem!!!
O rapaz ferido apertou suas mãos contra o peito e seu rosto se contorceu em grande agonia, ele moveu o corpo todo tentando levantar-se.
- Isso não é uma boa idéia – disse Ansur se recobrando do susto e tentando imobilizá-lo no chão. – Consegue me dizer seu nome? Entende o que estou falando?
- Inu... Inu... nome... – respondeu com dificuldade o rapaz no chão.
Ansur puxou uma sacola que carregava no cinto, dentro dela havia um frasco com um remédio gosmento e de cor verde escuro, após aplicar no ferimento de Inu o cavaleiro disse:
-         Temos que partir, se formos imediatamente talvez consigamos ajuda na cidade mais próxima. Não sei o que lhe fizeram, mas pelo estado horrível em que você estava isso é magia negra das mais poderosas. Preciso levá-lo até Calabar, nosso curandeiro, ele poderá ajudar.
Ansur acomodou Inu no cavalo e correram até um pequeno vilarejo aos pés de uma montanha, próximo ao portão dois soldados da Irmandade Branca faziam a guarda noturna. Ansur reconheceu o emblema especial dos treinadores de grifos estampados do lado direito da farda dos soldados.
- Irmãos de Paralta, peço-lhes ajuda encontrei um dos nossos tombado em combate, ele precisa de cuidados especiais, pois magia negra tocou seu corpo.
Os soldados se aproximaram e viram no peito do cavaleiro o medalhão da guarda real, espantado, um deles disse:
-         Venha comigo, você precisará de uma montaria mais rápida.
Ansur encostou Inu próximo ao portão e correu, sumindo na penumbra com o outro soldado. O rapaz apertou o ferimento tentando desesperadamente acabar com a dor fulminante, um súbito medo de morrer passou por sua mente, cada minuto que passava parecia uma eternidade. Finalmente Ansur apareceu montado em uma figura bem peculiar, era um grifo. Inu só havia visto uma criatura tão magnífica desenhada nos antigos pergaminhos de seu país.
- Não tenha medo, meu amigo, com este companheiro aqui chegaremos amanhã bem em tempo para o almoço! – disse Ansur tentando acomodá-lo na montaria.
O grifo levantou vôo. Inu sentiu o ar gelado tocar seu rosto, estavam em uma velocidade incrível, ele fechou os olhos e tentou recordar o motivo de ter sido abandonado por seus irmãos no templo do oráculo. Seu peito doía muito, porém uma imensa ansiedade tomou seu espírito ao se lembrar – em meio às últimas horas que passou com Ansur – que estava indo diretamente para o castelo onde morava seu verdadeiro inimigo. Um sorriso sarcástico e satisfeito tomou conta do rosto pálido de Inu.

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Ao chegar no castelo, Inu foi carregado pelos soldados do pátio até um aposento onde havia uma mesa de madeira limpa  e coberta por um grosso pano branco.
Calabar observava o ferimento de Inu enquanto seus aprendizes retiravam as vestes superiores do cavaleiro. O rei dos dragões ungiu a ferida com uma se suas poções, então colocou sua mão esquerda sobre o machucado e proferiu um encantamento tão poderoso que seus dois discípulos sentiram-se nauseados por alguns instantes. O líquido pastoso começou a borbulhar como óleo fervente, Inu se contorceu até ficar inconsciente devido a dor insuportável.
Quando Calabar terminou o encantamento fez-se um silêncio mortal, o mago olhou desconfiado para o rapaz, deu dois passos para trás, contornou a mesa e disse para seus pupilos:
- Cubram o corte com bandagens limpas, amanhã de manhã ele estará bem melhor.
“Só então poderei observar se agi corretamente ao salvar a vida desta criatura” – pensou o mago com certa apreensão.
No lado de fora do aposento Arien e Ansur esperavam impacientemente por notícias.
-              Uma noite de sono e descanso é tudo o que ele precisa para se levantar tão bem quanto antes deste infortúnio. – disse Calabar aos dois.

Não sei se vai continuar...

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